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‘Dormia com vape; medo de ficar sem desencadeava pânico’

‘Dormia com vape; medo de ficar sem desencadeava pânico’

'Eu dormia com o vape na mão e tinha crises de pânico só de imaginar que ele estava acabando'

A influenciadora digital Chloë Marie Dubois, 22, não percebia a gravidade da dependência em vape até deixar de usá-lo. Cigarro eletrônico é febre entre os jovens

A influenciadora digital Chloë Marie Dubois, 22, usou o TikTok para alertar as pessoas sobre o vício causado pelo vape, dispositivo eletrônico que tem sido uma febre entre os jovens. Ela relatou a complexa abstinência que enfrentou ao parar de usá-lo.

O primeiro contato de Chloë com a nicotina foi por meio do cigarro eletrônico, aos 16 anos. Uma amiga pegou o dispositivo do pai e as duas fumaram juntas escondidas. Em seguida, a influenciadora digital experimentou o cigarro de menta e esse se tornou seu favorito.

“Depois eu fui para o Juul, para o tabaco e voltei para o vape. A vontade de fumar vai se tornando tão frequente que você começa a buscar formas mais fáceis de continuar cultivando o vício”, diz Chloë.

A influenciadora digital relata que usava o cigarro eletrônico por uma série de fatores. O que começou como uma maneira de se sentir descolada entre os amigos também fumantes tornou-se uma válvula de escape para lidar com problemas como a dificuldade em aceitar a própria imagem.

“O vape era maravilhoso porque inibia minha fome. Logo, eu não tinha vontade de comer e conseguia ficar o mais magra possível”, lembra.

A sensação de tranquilidade proporcionada pelo cigarro eletrônico também amenizava os sintomas de Chloë associados a depressão, ansiedade e ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

Os distúrbios psicológicos foram diagnosticados por um psiquiatra, mas a influenciadora digital não se adaptou ao tratamento medicamentoso. Além de não gostar da sensação que os remédios traziam, as drogas não pareciam necessárias, uma vez que a nicotina amenizava os sintomas.

Chloë relata que o uso do vape aumentou durante a pandemia, mas o auge foi neste ano. “Eu não podia sair de casa sem ele e tinha crises de pânico só de imaginar que estava acabando. Eu dormia com o vape na mão e ficava desesperada se o perdesse na cama. Se eu acordava durante a noite, dava um trago”, conta.

A influenciadora digital lembra de um episódio em que estava em uma festa e o seu vape acabou caindo dentro do vaso sanitário. Ela começou a chorar, desesperada, se perguntando o que iria fumar no resto da noite.

A virada de chave para parar de fumar

O aumento das notícias sobre os prejuízos do vape começaram a deixar Chloë preocupada. O estopim foi quando ela se deparou com o caso de um jovem, com uma idade próxima a sua, que estava com o pulmão coberto de manchas pretas devido ao uso do dispositivo eletrônico.

“No momento que vi uma pessoa, mais nova que eu, que fuma o mesmo tempo ou até menos que eu, e está morrendo em uma cama de hospital por ter o mesmo vício, me perguntei o que eu estava fazendo e quanto tempo eu tinha antes de me tornar aquela pessoa. O quão distante eu estava desse destino?”, refletiu na época.

Chloë decidiu conversar sobre o que estava acontecendo com pessoas próximas e recebeu apoio. Seu namorado propôs que os dois corressem meia maratona juntos, o que faria com que a influenciadora digital precisasse parar de fumar para ter um desempenho melhor.

Sem o vape desde agosto, a influenciadora digital conseguiu completar o desafio agora, em dezembro.

Sintomas de abstinência do vape

“Parar de fumar foi uma das coisas mais difíceis que fiz na minha vida”, declara Chloë. Isso porque ela sentiu sintomas de abstinência que pensava que não iria acontecer, já que acreditava que não era viciada em cigarro eletrônico.

A Associação Médica Brasileira (AMB) explica que o nível de nicotina no vape pode ser maior do que nos cigarros tradicionais e a substância é conhecida por causar dependência química. Logo, ao tentar parar de usar o dispositivo, os sintomas de abstinência surgem.

“A nicotina atua no sistema nervoso central, estimulando a liberação de dopamina, que é relacionada a sensação de prazer e recompensa. Além disso, toda vez que a pessoa consome a substância, o corpo vai desenvolvendo uma tolerância a ela e com isso vai sendo necessário aumentar a quantidade consumida para alcançar o mesmo efeito”, explica a psiquiatra Giovanna Brega Quinet de Andrade, que atua com dependência química na clínica Revitalis.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a nicotina leva de sete a 19 segundos para chegar ao cérebro. Isso faz com que o início do processo de parar de fumar seja o mais difícil, amenizando com o passar do tempo.

“No meio do segundo mês, eu estava surtando. Pensei que estava grávida porque estava tendo crise de pânico e minha menstruação estava atrasada de tão ansiosa que fiquei. Tinha crises de choro desesperadoras. Sentia muita fome, depois não tinha vontade de comer”, lembra.

Os principais sintomas de abstinência, de acordo com o Inca, são:

  • Dor de cabeça;
  • Tontura;
  • Irritabilidade;
  • Alteração no sono;
  • Dificuldade de concentração;
  • Tosse;
  • Indisposição gástrica;
  • Intensa vontade de fumar.

Como aconteceu com a influenciadora digital, pode ocorrer ainda aumento de apetite, oscilação de humor e ansiedade, de acordo com a psiquiatra.

Quais são os prejuízos causados pelo vape?

O pneumologista Felipe Marques da Costa, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que ainda não se sabe todas as consequências do vape a longo prazo, porque pesquisas sobre o dispositivo eletrônico ainda estão sendo feitas e, consequentemente, novas informações vão surgindo.

“O principal risco a curto prazo é desenvolver lesão pulmonar associada ao uso de e-cigarette ou vaping (Evali), caracterizada por sintomas respiratórios e alterações nos exames de imagem do tórax”, esclarece o especialista.

Pacientes com Evali podem apresentar sintomas como tosse, falta de ar, chiado no peito, problemas gastrointestinais, além de indisposição.

Giovanna Brega Quinet de Andrade reforça que outro perigo em relação ao vape é a sua comercialização proibida no Brasil desde 2009. Ao ser um produto vendido sem fiscalização e autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há garantia de que ele é seguro.

“Se o produto não é regulamentado, ele não tem padrão de segurança, de qualidade. Logo, não se sabe quais são as substâncias que estão sendo usadas nele, a procedência e quantidade de cada uma”, detalha a psiquiatra.

A comercialização não regulamentada também abre portas para que jovens e até mesmo crianças usem o dispositivo eletrônico. No Reino Unido, por exemplo, um a cada seis adolescentes faz uso de vape, de acordo com a agência de padrões comerciais de Lancashire.

O que fazer para parar de fumar?

Como Chloë tem feito, o acompanhamento psicológico é fundamental para conseguir parar de fumar. A terapia pode ser associada ao tratamento medicamentoso com reposição de nicotina e remédios que auxiliam nos sintomas da abstinência.

“Grupos de apoio também são estratégias importantes que podem ajudar a pessoa a parar de usar o cigarro eletrônico”, completa Giovanna Brega Quinet de Andrade.

A busca por atividade física regular combinada com uma alimentação saudável também são importantes para a pessoa conseguir lidar com o vício do vape.

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