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Profissional Botafogo: Como evitar a queda de rendimento

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Destacar-se em todas as etapas para chegar na final é desafiador tanto no esporte quanto no mercado de trabalho, mas criar resistência para não deixar o sucesso escapar na reta final é um desafio

O futebol traz lições valiosas para a vida profissional. Um exemplo foi o que aconteceu com Botafogo, que surpreendeu torcedores no Campeonato Brasileiro. Da expectativa de levar o título do Brasileirão, a realidade é que o clube carioca viu as chances de ser campeão este ano diminuírem bastante após a virada de 4 a 3 contra o Palmeiras no Engenhão, no último dia 1º de novembro.

“O Botafogo meio que deixou o título no jogo contra o Palmeiras, que cresceu no jogo, empatou e virou”, diz Donizete Pantera, ex-atacante do Botafogo que disputou e ganhou o único título do Brasileirão do Botafogo, em 1995.

Ele acrescenta que aquela vitória era muito importante para o Botafogo, e “deu uma desanimada na torcida e nos jogadores.” Hoje, o clube não tem mais chances de vencer o Brasileiro em 2023.

O que faltou para o Botafogo ser campeão neste ano?

Administração e concentração foram dois elementos em falta para o clube este ano, diz Donizete.

“Neste Campeonato Brasileiro o Botafogo começou muito bem, deixando uma boa gordura, mas não pensávamos que ia acontecer o que está acontecendo, o Botafogo perdeu toda essa gordura e alguns clubes, que pensávamos que já estava descansando a cabeça para o ano que vem, cresceram e chegaram no topo, enquanto o Botafogo caiu. Faltou administração e um pouco mais de concentração para que não deixasse escapar algumas vitórias, que acabaram escapando.”

Para Gonçalves, ex-zagueiro do Botafogo e campeão pelo time em 1995, não foi apenas o jogo contra o Palmeiras que acabou tirando o título do clube, mas a sequência de derrotas para outros times importantes.

“O clube realizou uma campanha histórica no primeiro turno, que fez com que todos os torcedores passassem a sonhar com o título, como nunca sonharam nos últimos 28 anos”, diz Gonçalves. “Mas no segundo turno, a forma como o Botafogo perdeu causou uma frustração muito grande nos torcedores.”

“O Botafogo deixou escapar a vitória em vários jogos importante como o jogo contra o Palmeiras, Grêmio, Bragantino e Curitiba. Os resultados foram inacreditáveis, somando 9 jogos sem vencer”, diz o ex-zagueiro.

Gonçalves que também fez parte do time que ganhou a Taça de Guanabara em 1997, afirma que o que mais pesou no clube na fase final deste ano foi o aspecto emocional, que provocou uma baixa no rendimento dos jogadores.

“O time falhou no segundo turno, em uma fase decisiva, tendo uma queda de rendimento dos seus principais jogadores. Nessa reta final, quando ainda tinha uma vantagem que poderia sustentar para ser campeão, teve derrotas que foram provocadas, principalmente, por questões psicológicas dos jogadores que não conseguiram se fortalecer mentalmente para manter a vantagem que conseguiram no primeiro tempo. Com certeza essa virada será tema de debates em muitas rodas de futebol neste fim de ano.”

O ‘Profissional Botafogo’

Em toda a disputa, o ganhar e o perder faz parte, afinal sempre terá alguém para representar cada lado.

No mercado de trabalho essa disputa também acontece. Para usar uma analogia com o Campeonato Brasileiro deste ano, há profissionais como o Palmeiras: até vão mal no início, mas depois engatam num ritmo de trabalho eficiente e, na reta final de um desafio, como a conclusão de um projeto, não decepcionam quem está ao redor.

E, numa situação bem diferente desta, há quem sofra dos mesmos males do Botafogo neste Campeonato Brasileiro: começam muito bem uma empreitada, estavam em vias de ter um desempenho excepcional para uma promoção ou um aumento, por exemplo, e, no meio do processo, perde o foco — e deixa um rastro de decepção pelo caminho.

Para você que não pensa aposentar as chuteiras e precisa se preparar para o jogo do mercado de trabalho, especialistas explicam como criar resistência e estratégias para aguentar o tranco, justamente quando você é o profissional Botafogo, que precisa virar o jogo para chegar aonde quer na próxima oportunidade.

O “condicionamento psicológico”

Um dos principais motivos que podem ter levado o Botafogo a não chegar na final do Brasileirão pode ter sido a saúde mental, conforme sugerido pelo ex-jogador Gonçalves, que reforça que ter um bom “condicionamento psicológico” é tão preciso quanto o físico.

Essa virada de desempenho que aconteceu no Botafogo pode acontecer em diferentes fatores e dentro da psicologia existe um conhecido como “desamparo aprendido”, segundo Téo Nascimento, psicólogo e coordenador da equipe de psicologia da clínica Revitalis.

“Em muitas ocasiões, pessoas que costumam ter um grande potencial podem passar por um momento de virada, em que acaba de alguma forma se sabotando, muitas vezes porque acabou tendo alguma frustração chegando perto de alcançar algum objetivo.”

“Acaba que, dependendo da personalidade e da subjetividade de cada um, muitas vezes a pessoa vai interpretar isso como uma questão de incapacidade, com isso, ela vai internalizando uma crença de que em algum momento alguma coisa vai dar errado e aquele objetivo não será alcançado”, afirma o psicólogo.

Na maioria das vezes, Nascimento afirma que essa situação acontece de forma inconsciente, ou seja, a pessoa não se dá conta de que ela está de alguma forma ali se sabotando e acaba que, em algum momento isso acontece de fato – é o que pode ter acontecido com o time do Botafogo.

“Nos últimos jogos, a derrota vem se repetindo para o clube carioca. A equipe vai ali, consegue um placar e daqui a pouco a coisa desanda. É algo que pode ser relacionado ao desamparo apreendido. Eles tiveram algumas frustrações que pode ter gerado no grupo esse estado de insegurança ou de alerta inconscientemente de que já já a coisa irá desandar.”

Além dessa possível autossabotagem que pode ser comum em profissionais de qualquer setor, outras questões psicológicas podem impactar o indivíduo que está chegando na fase final, como a ansiedade gerada pela pressão interna e externa, além do cansaço que certamente pode aparecer após tanto esforço no início da disputa.

“A pessoa pode estar desenvolvendo recursos internos para lidar com todo o cansaço, pressão e expectativa do próprio sujeito que é gerado em torno de algum evento, da família, da sociedade, da empresa ou da torcida. Por isso é importante uma atenção especial para a saúde mental, e a psicoterapia é um dos meios que pode ajudar neste cenário”, afirma o psicólogo, que relembra como exemplo o caso da ginasta olímpica Simone Biles, que abandou as finais dos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020 para cuidar da saúde mental.

Técnicas para preparar a mente e o físico

Assim como a psicoterapia pode ajudar com a saúde mental, alguns exercícios são recomendados pela coaching profissional, Milena Brentan, para melhorar o desempenho de uma pessoa ou grupo, desde o início à fase final de um processo:

  • Pratique exercícios físicos: isso libera endorfina que ajuda a lidar com situações de estresse;
  • Aposte em hobbies: fazer o que gosta estimula a criatividade e a autoestima;
  • Técnicas de meditação ativa: ajuda a trazer mais concentração;
  • Yoga: une meditação e movimento do corpo, ou seja, mente e corpo e traz equilíbrio;
  • Aposte em técnicas de respiração: ajuda a controlar a ansiedade e traz foco;
  • Recorra a grupos de pessoas de confiança para trocar ideias e reflexões: pode conseguir ideias ou estratégias de como fazer o seu trabalho de uma forma mais produtiva e saudável.

“O mais importante do que fazer para encontrar a saúde física e mental, é achar o que funciona para cada um, porque é uma escolha muito pessoal e que exige autoconhecimento e experimentos”, afirma Brentan.

A posição da liderança

Não podemos esquecer que no meio esportivo ou corporativo o excesso de autoconfiança ou simplesmente a perda do foco pode fazer com que a pessoa não se prepare o suficiente para atingir o alvo, e neste caso, o papel do líder precisa ser destacado.

“O papel do líder, do técnico ou gestor é gerenciar uma equipe que irá fazer as entregas. O papel do líder não é fazer a entrega, é inspirar e motivar um time que vai fazer a entrega”, afirma Brentan.

Para reforçar como um líder pode ajudar no desempenho da equipe, assim como na sua saúde mental, a executiva traz as seguintes dicas:

  • Visão de longo prazo: quando o líder dá essa visão, ele faz todos lembrarem que aquela fase faz parte de um caminho, e que altos e baixos são esperados quando temos qualquer processo de trabalho. “Às vezes quando a pessoa está em um momento mais difícil, ela tem dificuldade de ver tudo o que já passou, conquistou e o caminho que falta para percorrer.”
  • Dividir uma grande meta em submetas: quando uma grande meta é quebrada por prazos e números, fica muito mais factível alcançar o resultado tão esperado;
  • Mapear o time: entender como desenvolver cada pessoa e o que está acontecendo no time é muito importante. Tem alguém que não está comprometido? Se sim, por qual motivo? Afinal, o comprometimento individual é um componente muito importante para o sucesso de uma equipe.

Como chegar lá?

No cenário profissional, o sucesso demanda mais do que momentos isolados de destaque, afirma Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half América do Sul.

“Estabelecer metas de longo prazo é fundamental, porque são elas que nos fornecem uma direção clara para guiar o desenvolvimento profissional. A busca por educação continuada também é essencial e garante que as competências estejam sempre afiadas.”

Além de saber aonde quer chegar e de se preparar para as oportunidades, ter em mente que o ambiente é de alta concorrência e que sempre existirão pessoas talentosas ao nosso redor é crucial.

“Resiliência, persistência e uma compreensão realista de que, assim como no esporte, nem sempre alcançaremos o primeiro lugar é uma lição valiosa. Por isso, valorizar o progresso, independentemente do cargo alcançado ou de pequenas derrotas, é elementar para manter uma mentalidade positiva”, afirma Mantovani.

E se a derrota acontecer, como virar o jogo?

Após uma derrota profissional, é preciso realizar uma análise reflexiva da experiência e identificar pontos de melhoria. Ajustar metas, segundo Mantovani é uma abordagem adaptativa, não uma redução de ambição, e pode ser necessária para se alinhar às novas circunstâncias.

“Além da reciclagem de habilidades, o fortalecimento da rede profissional e a manutenção de uma mentalidade vencedora são alguns passos práticos para virar o jogo.”

Ao compreender que a carreira é uma jornada de longo prazo, é possível transformar cada revés em oportunidades de crescimento e preparação para futuros sucessos, afirma o diretor-geral da Robert Half.

“Fato é que não vemos ninguém que atingiu grandes resultados na carreira esportiva ou no mercado de trabalho, sem ter passado por dias difíceis, sem a necessidade de dedicação constante, sem resiliência, sem aquela força de vontade para continuar insistindo mesmo quando as coisas não estão indo tão bem ou não estão dando tão certo.”

O ex-jogador Gonçalves viveu uma experiência interessante que envolveu resiliência em um momento difícil de sua carreira. Em um clássico entre Flamengo e Botafogo no Maracanã, em 1989, Gonçalves jogava pelo Flamengo e na final acabou fazendo um gol contra.

O jogo terminou em 3 a 3, o que levou o Botafogo a ser campeão carioca estadual naquele ano, saindo de um jejum sem títulos há 21 anos.

“Depois daquele jogo algo inédito aconteceu, o Botafogo me contratou. Não lembro de um jogador fazer gol contra e um mês depois ser contratado pelo time que ele acabou ajudando a ganhar o título. No ano seguinte fui campeão estadual, dando uma volta por cima na minha carreira”, afirma Gonçalves.

Como criar resistência no momento mais delicado?

Em primeiro lugar, é preciso entender que momentos desafiadores surgirão durante toda a carreira, assim como nos jogos, e para eles precisam treinar bem as nossas habilidades comportamentais, afirma Mantovani.

“Existirão sempre altos e baixos e, durante os baixos, é fundamental persistir e acreditar no trabalho realizado até então. Para aguentar os trancos, os aspectos comportamentais são extremamente relevantes. Aqueles profissionais com competências bem desenvolvidas de inteligência emocional, adaptabilidade, comunicação, relacionamento interpessoal, entre outras, estão bem mais preparados para contornar situações difíceis.”

Entre as habilidades comportamentais que o ex-jogador Gonçalves reforça para um atleta e que vale para o mundo corporativo está a disciplina, a determinação e o saber trabalhar em equipe.

“São várias as características que um jogador ou profissional precisa ter para se tornar bem-sucedido. A principal delas é a qualidade técnica para dar resultado. Também é importante saber trabalhar em equipe e ser um atleta bem determinado, que corre dentro do campo, e disciplinado, que executa bem os fundamentos técnicos do jogo.”

Momentos delicados chegam para ensinar e aprimorar um profissional, seja ele de forma individual ou em equipe, e para Gonçalves o futebol é um bom exemplo de teste que pode ajudar na evolução humana.

“O futebol, assim como os demais esportes que geram paixões, nos ensinam a cada semana, com as vitórias e derrotas, a buscarmos entendimento para superarmos as provações que temos no nosso dia a dia. Alguns meios como o esporte e a espiritualidade pode trazer lições de evolução e ajudar o ser humano a ser bem-sucedido em todos as suas relações”.

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